A tragédia de Suzano, um chamado para reacender a nossa Profecia
Como ser humano, brasileiro, cristão e pastor da Igreja, foi chocante acompanhar pelas mídias todo o horror da violência perpetrada contra adolescentes, jovens e adultos na cidade de Suzano, ceifando a vida de 10 pessoas. No mesmo dia da massacre, pedi para todos nos unirmos em oração pelas pessoas que perderam a vida e pelas suas famílias. Renovo este pedido, e chamo todos vocês, a tomar consciência e discernir o que cabe a nós fazermos.
Muitos jornalistas, ao comentarem os motivos que levaram os algozes a realizarem ato tão deplorável, tentavam explicar onde o adolescente e o jovem de Suzano buscaram modelos para tanta maldade. Sem ânimo de fazer uma interpretação o um juízo sobre as causas que são multifatoriais e complexas, é constatável que eles há muito tempo praticavam jogos violentos de Video Game e muito provavelmente, frequentaram ambientes de internet onde se propaga a violência.
Na preparação para o Sínodo dos Jovens houve a denúncia das graves consequências do uso superficial das mídias digitais, tais como: realidade paralela enganadora que desfigura a dignidade humana, perda de identidade ligada a uma representação equivocada da pessoa, construção virtual da personalidade e perda do contexto social em que se vive (Cf. Sínodo dos Bispos. XV Assembleia Geral. Instrumento laboris, 58).
As novas mídias que tem como objetivo servir a comunicação entre as pessoas, em vista da humanização, da construção de uma sociedade mais fraterna, estão levando muitas pessoas a descer a ladeira, num processo crescente de desumanização e violência. Como explicar e compreender o desejo de morte e de provocar a morte em jovens onde deveria estar naturalmente e com exuberância extravasando o desejo de Vida? Qual “elixir” circula pelas redes que gera estes processos?
Os comentadores não mencionam, mas talvez a espantosa e ‘incentivada’ penúria do sagrado no mundo moderno, não estaria na base da perda do sentido da vida, como denunciou Charles Péguy. Será que a cultura do descartável, tão propalada na mentalidade contemporânea, e trafegando pelas redes, não poderia estar levando nossos jovens a perder o sabor pela vida? A descer num território de solidão, manipulação, aproveitamento e violência?
São João Paulo II, acertadamente, disse aos jovens: “o homem só pode ser educado a partir de dentro, com a força de um ideal espiritual, fazendo-lhe ver os simples contornos da verdade e o aspecto do autêntico amor em que a vida humana está colocada por Cristo” (Audiência Geral, 25.07.1979). Somos Igreja profética e precisamos nos perguntar: O que estamos produzindo nas novas mídias e na cultura geral para sustentar o desejo de vida, para que a beleza de Deus volte a resplandecer no desejo de vida?
Como Igreja discípula-missionária temos a grande missão de ir no encontro das juventudes, e ajudar os jovens a subirem a ladeira da existência e a redescobrir a beleza da vida, melhor dizendo, a Via da Beleza. Testemunhar aos nossos jovens que crer é algo belo, capaz de cumular a vida de um novo esplendor e de uma alegria profunda, mesmo em meio as provações (Cf. Evangelii Gaudium, 167).
“O melhor remédio para os males urbanos é apresentar o sentido unitário e completo da vida como está proposto no Evangelho” (Cf. Evangelii Gaudium, 75).
Dom Sergio de Deus Borges
Bispo Auxiliar de São Paulo
Vigário Episcopal – Região Santana