O desejo de constituir família
Os Padres Sinodais, no documento final (Relatio Synodi) do Sínodo Extraordinário sobre a família, refletiram sobre os grandes sinais de crise da família nos vários contextos do mundo globalizado, mas constataram com lucidez e coração de pastores que a vontade de constituir uma família contínua viva, principalmente entre os jovens, e isto motiva a Igreja, mãe e mestra, a anunciar continuamente e com convicção profunda o Evangelho da Família.
Esta constatação dos Padres Sinodais é tão importante que o Papa Francisco no primeiro parágrafo da Exortação Apostólica Amoris Laetitia recorda as mesmas palavras: “o desejo de constituir família permanece vivo….(AL 1). Aos olhos dos desavisados, parece que a Igreja está nadando contra corrente, que os bispos não ouviram os jovens e não analisaram a realidade com as categorias das ciências, principalmente a antropologia e a sociologia. Realmente, não podemos desconsiderar as grandes contribuições e constatações que nos apresentam estas e outras ciências afins.
Parte de nossa cultura e mídias sociais propagam a ideia de que a família tradicional não resistirá aos embates da sociedade moderna, mas pesquisadores e estudiosos sobre a família (reunido em torno de Franz-Xavier Kaufmann, R. Hettlage, R. Nave-Herz e L. A. Vascovics) vislumbram, por detrás dos processos de mudança social, uma continuidade do ideal de família mais forte do que permitem suspeitar os sugestivos cenários de uma radical modernização da sociedade. As investigações empíricas não sustentam a ideia de que a família fundada no matrimônio tem seus dias contados (Cf. SHOCKENHOFF, E., o futuro da família, in. AUGUSTIN, G. (ORG.). Matrimónio e Família. Modelo ultrapassado ou garantia de futuro?. P. 18-19).
As ciências confirmam o que foi constatado no Sínodo extraordinário da família, o ideal de família está no horizonte de nossos jovens e adolescentes. Padre Manuel J. ARROBA CONDE evidencia que este é um sinal dos tempos, através do qual o Senhor continua a agir no momento atual em que vivemos e a partir do qual nos convoca a levar adiante a alegria do Evangelho, um oásis que transformaríamos em miragem se nos recusássemos de atravessar o deserto que atualmente nos circunda (ARROBA CONDE, M.J. e IZZI C., Pastorale Giudiziaria e Prassi Processuale, 13).
Há um deserto a atravessar, o deserto da cultura do provisório, da corrente das grandes ideologias contra a família e contra a fé, e será atravessado por nossas futuras gerações, por nossos jovens que querem ser felizes, desejam compromissos sérios, têm no íntimo do coração o mais puro desejo de ser família e o desejo de Deus, o autor da família.
Como? O Papa Francisco ensina: “eu peço que vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocês não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês”. (Papa Francisco. Encontro com os voluntários… JMJ. 28.07.2013).
Dom Sergio de Deus Borges
Bispo Auxiliar de São Paulo
Vigário Episcopal – Região Santana