Os avós
No 4º domingo de julho, data próxima da festa de São Joaquim e Sant’Ana, celebrada no dia 26 deste mês, a Igreja comemora em todo o mundo o Dia dos Avós e dos Idosos, por uma decisão feliz do Papa Francisco. A cada ano, o Papa envia uma mensagem especial a toda a Igreja e à sociedade em geral, abordando algum aspecto da temática ligada aos avós.
No Brasil, já tínhamos a comemoração do “Dia da Pessoa Idosa” nessa mesma data em que a Igreja celebra na Liturgia a lembrança dos pais de Maria Santíssima e avós de Jesus. Lembrar das pessoas idosas já é importante, tendo em vista as situações nem sempre felizes em que vivem os idosos. Muitas vezes, acabam sendo esquecidos e deixados numa amarga solidão pelas gerações mais jovens; o sistema econômico baseado na produtividade os descarta como improdutivos, quando não, como um fardo que a sociedade do bem-estar deve carregar. E o número de idosos é crescente em todo o mundo, não sendo diferente no Brasil. A vida, graças aos progressos da medicina e de políticas públicas de saúde, alonga-se mais e mais, tendo como consequência o aumento considerável do número de idosos.
Ao instituir a comemoração do Dia dos Avós e dos Idosos, o Papa Francisco aponta para a dimensão familiar da pessoa idosa. Nada mais acertado e sábio, num tempo em que os laços familiares vão sendo diluídos e até desconstruídos. Os avós são parte de um grupo familiar, têm filhos e netos e relações de afeto que vão além do relacionamento formal e legal proporcionado pela tutela do Estado. Este deve, com certeza, cumprir com justiça e dignidade as suas obrigações para com os cidadãos que dedicaram longos anos de sua vida à edificação do bem comum. Porém, humanamente, isso não basta. As pessoas idosas necessitam do afeto dos familiares e da dedicação graciosa daqueles a quem deram a vida e ofereceram amor e o melhor de suas atenções. O Estado não substitui os filhos e netos.
Não devemos esquecer que um dos Dez Mandamentos da Lei de Deus se refere, justamente, ao respeito e à atenção devidos aos pais e, por extensão, também aos avós. Na Bíblia, a Palavra de Deus promete bênção e grande recompensa a quem honra devidamente os próprios pais. Pelo contrário, anuncia infelicidade e castigos a quem não trata bem os pais ou se esquece deles. O Dia dos Avós e dos Idosos serve, portanto, para nos ajudar a cumprir melhor o 4º Mandamento da Lei de Deus.
Além disso, o Papa Francisco aponta para mais um objetivo com essa comemoração: valorizar a família e as relações familiares. A mentalidade individualista, muito presente na cultura contemporânea, tende a romper os laços sociais e familiares. A família está sempre mais fragilizada e desorientada, não por último, porque as relações familiares e os laços de sangue são subestimados, quando não, desprezados. Projeta-se o indivíduo, por si só, com suas capacidades e aptidões, como se não tivesse ele um vínculo e uma base familiar. Valorizar a família e os vínculos naturais que unem seus membros é pressuposto para um tecido social sólido. Quando o convívio formal em sociedade entra em crise, é na família que o cidadão vai buscar seu porto seguro e a base a partir da qual pode ser reconstruído o tecido social.
Os avós são testemunhas de perseverança na busca dos valores altos que orientam a vida. Sua experiência humana, muitas vezes provada por muito sacrifício, ajuda os jovens a orientarem as suas escolhas pessoais. Os avós são a ponte entre as gerações que já se foram e as novas gerações que vêm chegando. Deus os abençoe e conforte, recompensando-os por tudo o que realizaram na vida.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 27/07/2021