Por que rezar pelos falecidos?
Por que ir aos cemitérios e recordar nossos falecidos? Tem sentido e valor a oração pelos falecidos? Essas e outras perguntas são levantadas com frequência por quem não possui fé e também por quem não tem a nossa fé católica. Há uma grande variedade de ideias filosóficas e religiosas diversas sobre a morte e a condição das pessoas após a morte. Devemos conhecer bem qual é a nossa, da Igreja Católica.
Vamos aos cemitérios para visitar o túmulo dos falecidos para recordá-los, talvez para lhes prestar uma homenagem, ou para matar a saudade, sobretudo se temos algum falecido recente bem ligado a nós e à nossa família. Isso é humano e não deveria causar estranheza a ninguém. O contrário é que deveria causar estranheza.
Tem sentido rezar pelos falecidos, como nós, católicos, fazemos? Sim, isso tem sentido e faz parte de nossa fé e da maneira como entendemos nossa vida neste mundo e após a morte. Desde os primeiros tempos, a Igreja vem cultivando a memória dos falecidos com respeito e piedade, oferecendo por eles orações e sufrágios. Nos ritos fúnebres, a Igreja Católica celebra com fé o mistério pascal de Cristo, do qual temos parte pelo Batismo, na certeza de que todos os que em vida se tornaram membros de Cristo crucificado e ressuscitado, quando morrem, são acolhidos por Ele na vida sem fim (cf. Ritual das Exéquias,1). Portanto, como diz São Paulo, “se com Cristo morremos, com Ele viveremos”.
No Dia de Finados, recomendamos nossos falecidos a Deus para que eles sejam definitivamente purificados pela misericórdia divina e acolhidos na vida eterna com Cristo ressuscitado, com Maria, os apóstolos e os santos de todos os tempos. Os falecidos continuam sendo parte da nossa Igreja – família de Deus.
A Igreja é formada por todos os que já partiram desta vida e estão junto de Deus; por aqueles que já faleceram e estão sendo purificados para entrarem no convívio de Deus e dos santos; e por nós, que ainda peregrinamos neste mundo, a caminho da “pátria definitiva”. Rezar pelos falecidos é um dever de caridade cristã, uma obra de misericórdia. Ao mesmo tempo, isso nos ajuda a nutrir em nós a fé e a esperança na vida eterna e a nos prepararmos para o grande momento de nossa partida deste mundo para ir ao encontro definitivo com Deus.
Com frequência, ouvimos ou lemos que foi celebrada uma missa “em homenagem” a esse ou aquele falecido. Convém que no uso da linguagem não digamos coisas estranhas, ou até contrárias à nossa fé católica. A missa e nossas orações pelos falecidos não são “homenagens” a eles, mas sempre preces dirigidas a Deus “em favor”, ou “em sufrágio” dos falecidos. Nós, católicos, não fazemos culto “aos mortos”, não nos dirigimos “aos mortos” em nossas orações e missas, mas sempre a Deus e “em favor” dos falecidos.
São Paulo, na comemoração de Finados de 2020
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo